Ele perdeu o ônibus. O tempo estava adiantado em 15 minutos e ninguém se preocupou em avisá-lo. O próximo sairia em 3 horas. Era sua última chance. Ele arriscou...
Ela? Nada se sabia até então. Apenas vagas lembranças de 10 anos atrás. Uma única lembrança:
__ Por que você fala “pur que”? (Era só uma questão do sotaque).
Vinte e seis horas depois, 1200 km percorridos, eles se reencontravam. Ela descia as escadas, ele a aguardava ansiosamente na sala.
__ Oi!
__ Oi. Tudo bem?
Um sorriso educado de ambas as partes, e nada mais. Ela saíra, ele cansado apenas dormiu.
Dois dias se passaram, e apenas alguns olhares perdidos. Na terceira e última noite, passaram a noite em claro. Conversaram sobre diversos assuntos, conversas em tentativas de sucumbir o desejo.
Hora de retornar. Ele sobe a mesma escada que ela desceu 3 dias antes, no pensamento apenas o desejo de tê-la, de sentir, tocar... Ela o acompanhou. Final da escada, corredor à esquerda, primeira porta a direita.
Ela o olha de uma forma diferente e tem o olhar retribuído. Dois segundos de silêncio que pareciam uma eternidade. Respiração ofegante, palavra sendo ensaiada, ela se aproxima e rompe o silêncio beijando-o no rosto. Afasta-se devagar, os dois se olham e sorriem timidamente.
Estavam a dois passos de um quarto vazio. Os dois caminham vagarosamente para o quarto, sentam na cama, ela deita, e ele a admira:
__ Desde que cheguei... Posso?!
__ Deve.
“Os lábios se tocaram ásperos em beijos de tirar o fôlego. ‘Procuraram’ álibis, ‘flutuavam’ lépidos, ‘sucumbiam’ ao pânico, ‘descansavam’ lívidos”
Hora de partir. Olhares e gestos de despedida. Ela em frente ao portão, ele dentro do carro no banco do carona.
A semana seguinte foi estranha, como se algo estivesse incompleto. Ele ligou pra avisar que tinha chegado bem, e ao ouvi-la, percebeu o que lhe estava faltando.
Aquela sensação o acompanhou por alguns meses, e sempre que possível ele encontrava um jeito de ouvi-la novamente. Trocaram algumas correspondências, alguns telefonemas. Ela, por alguns momentos compartilhava dos mesmos desejos e planos que ele.
Contudo, ele sabia que era improvável tê-la por perto. Resolveu então dar uma chance para aquela que foi deixá-lo na rodoviária, e que ficou feliz ao saber que o penúltimo ônibus já tinha passado. Depois disso, os dois perderam contato, se afastaram sem que ao menos percebessem.
Quatro anos depois se reencontram (nesses quatro anos, algumas coisas aconteceram. Ela esteve noiva, ele, pensou em casar-se também). No reencontro, ela praticamente sente o coração dele bater no momento em que o abraçou. Um abraço rápido, tímido, como não poderia deixar de ser.
Nos últimos meses ele criou expectativas demais, que não foram correspondidas. Para se sentir melhor, ele dormiu com outra. Não era uma qualquer, não era uma paga. Era apenas aquela que ele escolheu para aliviar sua decepção. Aquela noite foi diferente.
“Ele enfim dormiu apático na noite segredosa e cálida. Ela despertou-se tímida feita do desejo a vítima. Fugiu dali tão rápido, caminhando passos tétricos, amor em sua mente épico transformado em jogo cínico.
Para ele uma transa típica, o amor em seu formato mínimo, o corpo se expressando clínico, da triste solidão a rubrica.”
Ele acreditou que a decepção foi apenas por questão de tempo, afinal, eles estiveram juntos apenas por algumas horas. As coisas seriam diferentes.
__ Eu te amo!
__ Não!
Foi frustrante pra ele ouvir aquele não, mas ele relevou. Preferiu aproveitar o momento e curtir aquele frio ao lado dela, sentindo o calor do seu corpo. Aproximadamente uma semana se passou desde então. Mais uma vez os 1200 km os separam.
Eles continuaram a se falar, agora com mais freqüência do que antes.
__ Eu queria te falar...
__ Fala.
__ Quero dizer que sinto a tua falta, que quando ouvi que você me amava, no lugar daquele não, eu queria dizer: eu também. Não falei por medo, sei lá... Mas hoje tenho certeza do que sinto.
Ele acreditou ser pra sempre. Eles pensaram em casamento, ter filhos, morar na praia, envelhecer juntos, e na cadeira de balanço, olhar seus netos brincando.
Ela desistiu!
Ele sentiu raiva (mal sabia ele que a raiva não é o contrário do amor).
“Ele’ só queria uma verdade, alguma verdade. ‘Ele acredita’ no futuro, mas quem sonha paga o preço de sofrer pelos seus sonhos.”
Hoje ele se pergunta o que teria acontecido se não tivesse arriscado sua última chance em pegar o último ônibus, e já entende que o pra sempre não existe, que a vida é feita de ciclos, e que esse ciclo chegou ao seu final.
Aaah...esse eu conheço...inclusive foi com esse aí que virei tua fã...hà mais ou menos uns trinta milhoes de anos atrás...heheheh
ResponderExcluirComo sempre...arrasa!!
Bjão